Crise de saúde mental lota o INSS, ansiedade e depressão disparam afastamentos e empresas correm para se adequar à nova regra da NR-1

Em 2024, os afastamentos por transtornos mentais chegaram a ~440–472 mil, com ansiedade e depressão no topo. Governo cobra gestão de riscos psicossociais nas empresas.
A pressão por produtividade e a piora dos indicadores de saúde mental chegaram ao limite. Em 2024, o Brasil registrou o maior número de afastamentos por transtornos mentais em pelo menos uma década. A estimativa varia conforme a base consultada: cerca de 440 mil a 472.328 licenças por incapacidade temporária relacionadas à saúde mental.
A comparação anual acende o alerta. Em 2023, foram cerca de 283 mil casos. O salto para 2024 representa alta de ~68%, e 134% quando o recorte é 2022 vs. 2024. O total de pedidos de licença médica ao INSS em 2024 superou 3,5 milhões.
Os diagnósticos que mais afastaram trabalhadores foram ansiedade e episódios depressivos. Mulheres responderam por 64% dos casos e a idade média foi de 41 anos, sinalizando impacto direto no auge da vida laboral.
O cenário acelerou mudanças regulatórias. A NR-1, do Ministério do Trabalho e Emprego, passou a exigir a avaliação de riscos psicossociais nos programas de gestão de segurança e saúde. A medida entrou em vigor com caráter educativo em maio de 2025.
O que explicam os números recordes de 2024
A base oficial aponta a consolidação de um novo patamar de afastamentos após a pandemia. O volume de 2024, 472.328 licenças por transtornos mentais, é o maior da série iniciada em 2014. Isso reflete avanço de diagnósticos, sobrecarga emocional e mudanças no trabalho. Dados do Ministério da Previdência Social embasam o recorte.
Há, porém, discrepâncias entre bases. A Agência Brasil noticiou ~440 mil afastamentos, enquanto reportagens com dados do Ministério da Previdência e análises setoriais apontam 472 mil. A diferença decorre de escopo e cortes estatísticos usados por cada publicação. A tendência é inequívoca: forte crescimento.
No recorte bianual, a ONU no Brasil, com dados SmartLab, destaca aumento de 134% nos benefícios por saúde mental no trabalho entre 2022 (201 mil) e 2024 (472 mil). O indicador ajuda a dimensionar a velocidade da crise.
Estados mais populosos concentram volumes absolutos, mas quando ponderado por população, DF, SC e RS aparecem entre os mais afetados, segundo análise jornalística baseada nos dados do INSS.
Ansiedade e depressão lideram pedidos ao INSS
A ansiedade ocupou o topo dos afastamentos em 2024, com 141.414 registros. Episódios depressivos vieram na sequência, com 113.604. Outros diagnósticos, como depressão recorrente, também aparecem com peso relevante.
Especialistas citados nas reportagens relacionam o avanço a fatores como pressão por metas, jornadas extenuantes, assédio e insegurança no trabalho. Esses elementos são agora classificados como riscos psicossociais pela regulação.
Os números captam afastamentos, não pessoas. Um trabalhador pode ter mais de uma licença no ano, o que eleva o total de benefícios concedidos. Isso é central para interpretar a série.
O perfil predominante foi feminino (64%) e com média de 41 anos, faixa etária de alta participação no mercado. O impacto sobre produtividade e retenção é direto.
Impacto nas empresas: custo, produtividade e compliance
Cada afastamento dura, em média, três meses. Estima-se custo superior a R$ 3 bilhões em benefícios pagos em 2024, além de perdas indiretas para as empresas por absenteísmo e rotatividade.
Setores como bancos, varejo e atendimento hospitalar registraram forte participação em afastamentos associados ao trabalho, segundo recortes analisados por instituições e pela iniciativa SmartLab.
Para gestores de RH, o recado é operacional: mapear riscos psicossociais, revisar metas e cargas de trabalho, atuar sobre assédio e ampliar acesso a cuidado. O não cumprimento da NR-1 abre espaço a fiscalização e sanções após o período educativo.
O que muda com a NR-1 e os riscos psicossociais
A atualização da NR-1 (Portaria MTE nº 1.419/2024) incluiu explicitamente os riscos psicossociais no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). Empresas devem identificar, avaliar e controlar fatores como estresse, sobrecarga e assédio.
O Ministério do Trabalho anunciou início educativo a partir de maio de 2025 e acompanhamento por comissão tripartite, com transição até 2026. Sinal claro de que saúde mental no trabalho virou exigência regulatória.
Para cumprir, organizações precisarão integrar o tema ao PGR, registrar evidências e treinar lideranças. A orientação pública reforça prevenção e gestão contínua, não ações pontuais.
Você acha que a NR-1 resolve ou só aumenta custo e burocracia? Comente abaixo: o problema está mais na gestão das metas ou na falta de cuidado clínico? Sua opinião ajuda a qualificar o debate e a orientar pautas futuras.
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